Tem um disco novo de Raul Seixas rodando por aí há algum tempo. Na verdade é um compacto produzido por Jay Vaquer, guitarrista que esteve ligado a Raul desde quando o baiano ainda era produtor de música jovem na CBS. São apenas duas músicas, uma versão demo de Mosca na Sopa e 72 em 92 retirada do album Entre dois Mundos. Na gravação de Mosca na Sopa, Raul Seixas e Paulo Coelho discutem as bases de seu trabalho em conjunto, que começaria naquele momento.
Jay Vaquer tocou guitarra em alguns discos de Raul Seixas, inclusive na gravação de Mosca na Sopa, e foi seu cunhado. Não é de se estranhar que ele tenha outras jóias secretas de Raulzito. Entre elas está o célebre satânico roteiro para um filme intitulado O Triangulo do Diabo, Opus 666.
Ouça 72 em 92. Não consegui achar a versão demo de Mosca na Sopa e nunca tinha ouvido 72 em 92, por isso não sei se esse compacto existe de verdade. De qualquer forma, vai a dica.
Mosca na Sopa – Depois de uma introdução alucinada com um Raul ainda criança e já cantado rock, para dar início ao primeiro disco de sua carreira solo, Raul Seixas escolheu a música que, entre todas que ele gravou em sua carreira, está mais próxima do tropicalismo. Rock, forró, ciranda, capoeira e candomblé, Mosca na Sopa é uma atualização dos procedimentos utilizados pelos tropicalistas nos festivais da canção e em seus primeiros discos. O mais lógico seria abrir o disco com Ouro de Tolo, que havia sido lançada como compacto e vendido mais de 60 mil cópias, mas a escolha de Mosca na Sopa está intimamente ligada ao sucesso da apresentação de Let Me Sing, Let Me Sing no VII Festival Internacional da Canção – um programa exibido pela televisão e, portanto, com maior visibilidade que um lançamento de um compacto.
Em Let Me Sing, Let Me Sing é ouvido pela primeira vez a mistura entre rock e baião, que tornou-se uma das marcas das canções de Raul Seixas. Essa mistura é, de certa forma, repetida em Mosca na Sopa, o que explica a confiança no sucesso da canção.
Em Let Me Sing, Let Me Sing, o que há não é propriamente uma mistura, mas sim uma justaposição de uma estrofe de rock e outra de baião. Foi um sucesso e a canção foi classificada entre as finalistas do festival.
Mas Mosca na Sopa é muito mais radical. Na primeira parte da música, o baião tradicional dá lugar a uma mistura de elementos da música de capoeira, candomblé e o ritmo de baião, além do triângulo fazem parte do arranjo berimbau e atabaques, reco-reco, baixo elétrico e um ruido eletrônico que faz o papel da mosca – esse é um arranjo muito parecido com o de Bat Macumba. Na segunda parte da música, estão os elementos básicos de uma canção rock ou de jovem guarda, mas essa parte dura apenas dez segundos. No lugar do solo, temos uma ponte em ritmo de samba de roda, sem acompanhamento melódico e com forte intervenção do ruído eletrônico que representa a mosca.
A mistura do rock com ritmos nordestinos e sertanejos foi utilizada no resto da carreiro de Raul Seixas, em canções como As Aventuras de Raul Seixas Na Cidade de Thor (Gita, 1974), Caminhos (Novo Aeon, 1975), É Fim de Mês (Novo Aeon, 1975), Os números (Há 10 Mil Anos Atrás, 1976), Que Luz é Essa (O Dia Em Que A Terra Parou, 1977), Minha Viola (Abre-te Sésamo, 1980), Lua Cheia (Raul Seixas, 1983), Let me Sing, Let me Sing (Let Me Sing My Rock And Roll, 1985), entre muitas outras. Mas poucas vezes Raul Seixas se aproximou tanto do tropicalismo como em Mosca na Sopa.
